Segundo o Rabobank, projeção é creditada a problemas com a safra e a questões geopolíticas
Apesar de o Brasil exibir números recordes de exportações de café nos últimos dois anos, o clima atrapalhou a evolução das últimas safras que, desde 2021, não conseguiram alcançar uma padronização de qualidade. Este é um dentre outros fatores agrícolas e geopolíticos que levam a uma previsão de queda das exportações de café brasileiro a partir do ano que vem, na projeção do banco holandês Rabobank.
O país deve desacelerar os embarques a partir do primeiro semestre de 2025 e registrar no próximo ano 45 milhões de sacas de 60 kg embarcadas. Caso se confirme, o número representará um recuo de 7%, ou de 3,4 milhões de sacas em relação às previsões para o resultado deste ano, de 48,4 milhões de sacas, conforme estimativa do Rabobank.
“A redução da estimativa é pautada pela frustração da safra que está se desenvolvendo esse ano e pela pressão da oferta global”, explica o analista do banco Guilherme Morya.
Para o especialista, a desaceleração das exportações não deve se iniciar no fim deste ano porque, nos últimos meses, houve um aumento do interesse de torrefadoras europeias em antecipar as compras do grão brasileiro devido à previsão de aplicação da lei antidesmatamento da União Europeia. A previsão inicial era de aplicação da regra a partir de 30 de dezembro, mas o Parlamento Europeu deve votar o adiamento por um ano em sessão em novembro.
Essa antecipação das compras dos importadores europeus também deve contribuir para um ritmo mais fraco nos dois últimos meses deste ano.
Além disso, a oferta menor do Vietnã, maior produtor de robusta do mundo, impulsionou o aumento de embarque de conilon brasileiro para suprir a demanda global. As exportações brasileiras dessa variedade já chegou a 7 milhões de sacas desde o início do ano até setembro, e deve chegar a 9 milhões de sacas até o fim de 2024, estima o Rabobank.
Morya reforça que há problemas logísticos nos portos brasileiros e que estão no radar das tradings, dos exportadores, importadores e do produtor. As dificuldades de cumprir com os horários do atracamento e carregamento de navios, entre outros problemas, fizeram com que 2 milhões de sacas de café não fossem embarcadas em setembro, conforme apurou o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Morya indica que a melhora do clima nos parques cafeeiros do Brasil é um componente que pressiona os preços dos grãos (arábica e robusta) nas bolsas de Nova York e Londres. Nas últimas semanas chegaram chuvas nas lavouras, e a previsão é de continuidade dos índices pluviométricos nos próximos 15 dias.
“A melhora no clima do Brasil e no Vietnã colocaram teto nos preços do café, e o componente EUDR ajudou na queda dos preços. O mercado não tem motivação para construir estoque de café, o que limita os movimentos”, avalia Morya.
A estimativa do banco é que o café arábica oscile entre US$ 2,20 e US$ 2,45 a libra-peso no primeiro semestre do ano que vem.
Como força contrária, Morya aposta na permanência de fundamentos altistas no longo prazo devido à composição de estoques globais, aos conflitos no Oriente Médio e à própria EUDR.
“Há déficit global de 1,6 milhão de sacas de 2023/24, aperto que segue pelo quarto ano consecutivo no estoque global. Além disso, a oferta de robusta, os conflitos no Mar Vermelho, atrapalhando o fluxo de transporte dos grãos, e as incertezas sobre os volumes das safras brasileira e vietnamita no próximo ano, sustentam a alta dos preços”, diz.
No segundo semestre de 2025, a adequação à regulamentação europeia pode fazer com que os clientes europeus repitam o movimento de antecipação das importações, influenciando na volatilidade das cotações.
A exportação de café conilon brasileiro ganhou gás neste ano, e o movimento deve continuar em 2025 por causa do déficit de produção nos principais produtores globais do grão robusta: Vietnã e Indonésia.
O robusta asiático é como uma variedade ‘irmã’ do conilon brasileiro, o que possibilita que o Brasil abocanhe maiores fatias de mercado internacional. O cenário é positivo mesmo em um momento em que as lavouras de café estão prejudicadas pela seca e pelas altas temperaturas em grande parte do Espírito Santo, Estado que mais produz conilon no país.
Para Morya, o Vietnã deve chegar a uma produção de 28 milhões de sacas na safra 2024/25 – que começará a ser colhida em novembro -, um recuo de ao menos 2 milhões de sacas em relação ao ciclo anterior (2023/24). O número, se confirmado, pressionará a oferta global, mas não é o pior resultado do Vietnã, afirma.
Para ele, o Brasil deve manter a participação de mercado nas negociações do conilon porque as chances de recuperação da safra vietnamita para o próximo ano são pequenas, com potencial de volumes de produção continuarem estáticos.
“Os fatores também favorecem o mercado doméstico do conilon do Brasil, porque os preços aumentam nas [corretoras locais]. Estamos em um momento de transição: antes, usava-se muito conilon no blend de café [nacional]. Atualmente, só cerca de 20% do consumo doméstico é conilon”, pondera Morya.
Com o preço equiparado ou, em algumas situações, maior que o de café arábica, muitas torrefações nacionais passam a comprar maior volume de arábica, “liberando mais conilon ao mercado exportador”.
Em relação aos spreads de preços entre as duas variedades, Morya explica que não espera uma distância tão acentuada entre os tipos de café, estimulando a indústria brasileira a adquirir mais arábica.
Morya cita, ainda, que a oferta de conilon mundial deve se manter mais “estática”, com uma leve recuperação da safra da Indonésia e com a produção de conilon do Brasil despontando mais um ano.
Fonte: Globo Rural