O café conilon do Espírito Santo pode ser capaz de se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas sem perder a produtividade e a qualidade de bebida. A avaliação faz parte de uma pesquisa internacional, recentemente divulgada.
Os dados coletados durante cinco anos (2017-2022) sugerem que esse tipo de grão pode ser “climaticamente inteligente” e manter o desempenho com o manejo adequado. Os testes foram feitos em regiões frias e mais altas do Espírito Santo, historicamente adaptadas ao café arábica.
“Mesmo sob condições climáticas e ambientais alternativas, cultivares avaliadas de conilon demonstram plasticidade, que é a capacidade de se adaptar a diferentes ambientes, fato que pode ajudar a mitigar o efeito prejudicial das mudanças climáticas”, explica Elaine Riva, uma das pesquisadoras do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), órgão que coordenou a pesquisa.
Os três anos de estudos contaram com a parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Café) e com colaboração da Universidade da Flórida.
Os pesquisadores avaliaram características e comportamentos das plantas de conilon em três locais de grandes altitudes e clima frio no Espírito Santo, o inverso das condições de cultivo do Estado, onde a espécie está em ambientes quentes e de baixa altitude.
Os ensaios foram realizados em altitudes de 620 a 720 metros, nos municípios de Venda Nova do Imigrante, na Fazenda Experimental do Incaper, Iúna e Santa Teresa, regiões de produção do arábica.
Riva também explica que os materiais genéticos das plantas testadas tiveram uma produtividade média de 60 sacas por hectare, o que é considerada elevada.
A qualidade de bebida foi validada nas análises sensoriais realizadas no Centro de Cafés Especiais do Espírito Santo (Cecafes/Incaper) e no Laboratório de Análise e Pesquisa em Café do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) – Campus Venda Nova do Imigrante, acrescenta a pesquisadora.
Na Flórida, o pesquisador brasileiro Luis Felipe Ferrão contribuiu com propostas para sustentabilidade da cadeia do café diante das recentes alterações do clima e as que estão projetadas para os próximos anos.
Para ele, é necessário desenvolver cultivares mais resistentes ao clima, adaptadas às novas condições de cultivo a fim de atender à demanda por tolerância e qualidade. Ferrão agrega que o conilon possui diversidade e é “flexível” para o manejo.
“Cerca de 60% dos grãos de café comercializados no mundo são de café arábica, que é uma cultura mais delicada. Nesse contexto, a indústria do café busca alternativas, e o café conilon surge como opção para atender à demanda global de produção e consumo, que é crescente”, afirma Ferrão em nota.
A pesquisa completa foi publicada neste mês no periódico internacional Crop Science, uma das mais importantes revistas de ciências agrárias do mundo. Todo o estudo foi financiado pelo Consórcio Pesquisa Café.
Fonte: Globo Rural (Por: Isadora Camargo)