SÃO PAULO – A questão climática é uma das maiores preocupações do setor de café especial, sobretudo entre os agricultores, que elencam o assunto como um dos principais desafios. Ao mesmo tempo, mais de 40% dos cafeicultores dizem não ter certificação.
O meio ambiente é citado como o segundo tema de maior interesse para os produtores de café especial, atrás apenas do empreendedorismo. Além disso, a maioria diz já praticar ou ter interesse em aderir a manejos regenerativos ou agroecológicos.
Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Sebrae Nacional em parceria com a empresa Hongi que ouviu 1.355 pessoas em 24 estados brasileiros, entre janeiro e fevereiro deste ano. O levantamento, obtido em primeira mão pelo Café na Prensa, é um dos mapeamentos mais extensos já feitos no setor de café especial do Brasil.
Segundo Juliano Tarabal, diretor executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, a preocupação com as questões climáticas é latente entre os produtores porque eles tiveram que lidar nas últimas safras com muitos eventos climáticos adversos, como geadas, secas e ondas de calor.
Por isso, explica Tarabal, os cafeicultores buscam aderir a práticas capazes de tornar sua produção mais resiliente a eventos extremos. Assim, as práticas regenerativas são vistas como o conjunto mais completo de técnicas de proteção da lavoura.
Apesar disso, mais de 41,1% dos produtores rurais dizem não ter nenhuma certificação ambiental. A discrepância entre a alta preocupação com o tema e a baixa certificação se deve, em parte, ao alto custo necessário para obter essas chancelas.
Como são donos de pequenas propriedades –em geral, entre 4 e 100 hectares–, os ganhos não costumam ser elevados o suficiente para conseguir obter essas certificações.
Além disso, essas certificações têm uma motivação econômica, e não apenas ambiental. Afinal, elas são necessárias para acessar certos mercados, uma vez que há diversos países e empresas que exigem determinados selos de boas práticas ambientais e sociais.
“Hoje o produtor tem uma preocupação constante com a questão da mudança climática, mas está muito mais ligado ao manejo agronômico que ele vai inserir na sua propriedade –e as ferramentas para aumentar a resiliência climática– do que necessariamente a apenas um protocolo de certificação”, diz Tarabal.
“No final do dia esses protocolos de certificação estão muito mais associados a questões mercadológicas do que a questões essencialmente de sustentabilidade“, afirma.
Fonte: Folha de São Paulo (Por: David Lucena)