O consumo de café no Brasil caiu 5,13% no primeiro quadrimestre deste ano, sendo que a retração mais drástica ocorreu justamente no último mês do período, quando foi registrada uma queda de 15,96% na comparação com o mesmo intervalo de 2024.
De janeiro a abril de 2025, o Brasil consumiu 4,75 milhões de sacas de 60 kg, ante os 5,01 registrados no mesmo período do ano passado, segundo dados da própria indústria obtidos com exclusividade pela Folha.
A pesquisa é feita pela Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café) com base no monitoramento do varejo, que representa de 73% a 78% do consumo interno. São os primeiros dados consolidados que apontam a redução no consumo. O resultado vai no caminho de pesquisa realizada pelo Datafolha no mês passado, que também indicava uma redução no consumo. No levantamento, quase metade dos brasileiros (49%) disse ter diminuído a ingestão de café em razão da alta de preços.
O ano começou animador para o setor, que viu o consumo subir, ainda que em escala modesta. Janeiro e fevereiro registraram crescimento de 1,26% e 0,89%, respectivamente. Em março, a tendência se inverteu e houve uma queda de 4,87%. Em abril, esse movimento se acelerou, e o consumo despencou 15,96%. Essa queda expressiva preocupa ainda mais porque o café no Brasil costuma ser um produto inelástico, que tem um consumo estável. Uma diminuição tão brusca pode indicar que o consumidor está adotando novos hábitos de consumo, que podem ser difíceis de reverter após o produto baratear.
Isto porque, se o consumidor substitui o café por outras bebidas ou simplesmente deixa de tomar a bebida, pode haver uma perda definitiva do consumidor. Além disso, o país é o segundo maior mercado consumidor do mundo, razão pela qual uma retração do consumo doméstico é observada por toda a cadeia global. A redução no consumo ocorre em momento de altas históricas no preço do produto. O café moído acumulou inflação de 80,2% nos últimos 12 meses, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o que corresponde à maior alta desde o início do Plano Real.
Os dados preocupam a indústria às vésperas do Dia Nacional do Café, que é celebrado no 24 de maio. A Abic afirma que, apesar dos desafios enfrentados pelo setor, a cadeia cafeeira brasileira demonstra resiliência. No entanto, a realidade entre parte dos industriais é financeiramente delicada. Isto porque o café verde acumulou altas históricas ao longo dos últimos dois anos, mas as empresas não conseguiram repassar essas altas para o consumidor final no mesmo ritmo. Por isso, as fabricantes pediram socorro ao Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira), como afirmou à Folha o presidente da Abic no mês passado.
Na ocasião, Pavel Cardoso disse que a entidade se mobilizava junto ao Conselho Deliberativo da Política do Café para aumentar o capital de giro destinado à indústria, a fim de dar um fôlego às empresas e capitalizar o setor industrial. O café cru acumula altas históricas devido a uma sequência de adversidades climáticas nos principais países produtores, uma consequente queda dos estoques mundiais e uma demanda crescente. Com isso, o preço da commodity, que em outubro de 2023 chegou a ser cotado a US$ 1,53 por libra-peso, passou da marca dos US$ 4,10 em abril deste ano –uma alta de quase 170%. Estima-se que atualmente os estoques mundiais de café sejam de apenas 20,9 milhões de sacas de 60 kg –o menor das últimas 25 safras.
A safra 2025 do Brasil –que cultiva cerca de 40% do café consumido no mundo– deve ficar aquém do inicialmente esperado, de modo que o mercado já aguarda os primeiros sinais do ciclo seguinte. Mas, diante de estoques tão baixos, ainda que 2026 traga uma safra muito boa, ainda não seria o suficiente para recompor as reservas globais. Logo, analistas apontam que não há uma perspectiva de o preço ter quedas expressivas no médio prazo.
Fonte: Exame